Assim como em toda atividade relacionada a agropecuária, na pecuária de corte, que é um dos ramos da produção animal, também se faz necessário o uso de algumas instalações que facilitarão o manejo dos animais.
Antes de tudo, é preciso ter em mente que projetar e acompanhar a execução de uma instalação rural (desde que esteja dentro dos critérios) é uma das atribuições do profissional Engenheiro Agrônomo.
Dentro da Agronomia, a Construção Rural está inserida no campo da Engenharia Agrícola, que é uma área que engloba o projeto, desenvolvimento, construção e aplicação de tecnologias agropecuárias. Imagine como seria o beneficiamento da soja sem um secador, ou como seria manejar um gado sem um curral. São estruturas que foram elaboradas e aperfeiçoadas por profissionais ao longo dos anos para chegar no que são hoje.
As instalações rurais destinadas à produção animal, também conhecidas como instalações zootécnicas, têm como objetivo aumentar a produtividade por meio de métodos que racionalizem a produção. Na pecuária de corte, essas instalações são feitas com o objetivo de não causar danos aos animais e, principalmente, garantir a segurança dos colaboradores da fazenda.
Essas instalações devem ter como foco a resistência, economia, funcionalidade e, principalmente, a segurança. Instalações mal planejadas ou inadequadas, podem colocar em risco a vida dos trabalhadores e comprometer a qualidade do produto final devido a machucados, hematomas, feridas na carcaça e cortes ou riscos profundos no couro dos animais.
Os danos podem ser pequenos, mas se forem muitos ou em vários animais, já representa prejuízo para o produtor rural, pois animais machucados não terão um pleno desenvolvimento. Algumas instalações muito comuns e que muita gente conhece são:
Cercas;
Curral;
Cocho;
Corredores;
Reservatórios de Água;
Bebedouros;
Armazém/Galpão.
Cercas
Para aqueles que procuram definições, podemos dizer que uma cerca é nada mais do que uma estrutura projetada para impedir o acesso ao interior de uma determinada área, ou ao contrário, buscando impedir que algo ou alguém tenha acesso ao exterior de uma determinada área, visando restringir algo ou alguém no seu interior. É diferente de muro, pois as cercas são mais estruturas mais leves e vazadas, ou seja, é possível ver de um lado para o outro.
Na pecuária de corte, as cercas são fundamentais para reter os animais em determinado piquete ou para demarcar o limite entre uma propriedade e outra. Elas devem ser construídas utilizando fio de arame liso, pois o arame farpado pode causar ferimentos nos animais, como riscos e furos no couro, além de não ser tão resistente como o arame liso.
As lascas ou estacas são utilizadas para a construção de cercas e seu espaçamento vai depender muito da função da que essa cerca precisa desempenhar, de sua localização e do tipo de madeira/material dessa lasca. Os mourões, também conhecidos como palanques, são estacas maiores e mais grossas que servem de sustentação para a cerca, mantendo os arames esticados. Geralmente, as lascas possuem 2,2 m e os mourões 3,0 m de comprimento.
Para uma cerca de eucalipto (madeira branca), tem-se uma altura de 1,5 m do solo, com 5 fios de arame liso, espaçamento de 4 m entre lascas e 0,3 m entre fios. Já em uma cerca de aroeira, tem-se uma altura de 1,5 m do solo, com 5 fios de arame liso, 3 balancins por seção de lascas, espaçamento de 8 m entre lascas, 0,3 m entre fios e 2 m entre balancins.
Outro tipo comum é a cerca de choque, presente em todas as regiões produtoras do Brasil. Seu uso, em geral, ocorre principalmente em fazendas onde já se tem uma melhor estruturada e disponibilidade de uma mão de obra para a manutenção dessa cerca. Esse tipo de certa, emite pulsos elétricos que são sentidos pelos animais quando tocam na cerca, causando um desconforto momentâneo que os fazem recuar e não tentar ultrapassar a cerca novamente.
Mas de qualquer forma, em todas cercas, é recomendado que o produtor mantenha as lascas e mourões sem farpas, pregos, parafusos ou qualquer coisa que possa ferir os animais. Além disso, as cercas eletrificadas devem possuir um aterramento e isolamento adequados, além de sempre utilizar a voltagem recomendada, para evitar acidentes com descargas elétricas.
Curral
Ao meu ver, depois das cercas, o curral é a estrutura mais importante de uma fazenda. Para os amigos leigos no assunto a definição de curral é: estruturas de diferentes modelos organizadas e dimensionadas em um espaço para facilitar o trabalho com os bovinos. Ou de maneira mais simples, instalação rural destinada ao manejo do gado. Manejo este que pode ser de apartação, identificação (Brincagem), marcação, vacinação, inseminação, pesagem, entre outras atividades.
O curral deve ser construído em um local em que não alague, de preferência longe de baixadas e buracos para evitar que o gado atole. É importante que as paredes internas não estejam com saliência, pontas de prego, pontas de parafuso ou algo que possa perfurar os animais.
Se possível, dependendo das condições do produtor, é recomendado que se tenha a balança de pesagem dos animais (eletrônica ou mecânica), o tronco de contenção para auxiliar em uma IATF ou no caso de se precisar conter o animal para se fazer um remédio.
Existem outras estruturas que são recomendadas se ter um curral como por exemplo banheiro, pias, torneiras, bebedouros e latões de lixo, mas tudo depende da demanda de serviço e das condições da propriedade e principalmente da disponibilidade financeira do produtor.
No caso das balanças e troncos de contenção recomenda-se uma limpeza periódica nessas estruturas, para retirar o excesso de esterco que fica contido nas mesmas após o uso. Outro ponto importante é também realizar a manutenção nessas estruturas, apertando parafusos, engraxando dobradiças e engrenagens, entre outras.
Recomenda-se que as paredes da seringa, que fica antes do embarcador, e do embarcador sejam vedadas totalmente para que os animais não enxerguem nas laterais dificultando o embarque ou desembarque.
Realizar a coleta do lixo descartável após o manejo dos animais é fundamental. Pois esse lixo pode ficar se acumulando no curral ocasionando um risco de contaminação de outros animais e até mesmo das pessoas, além de servirem como esconderijo para animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões.
Prezar pela limpeza do curral é fundamental, porém manter seus arredores limpos também é importante. Principalmente no período das águas onde ocorre grande infestação de plantas daninhas, é recomendado manter os arredores sempre limpo através do controle químico. Não deixar juntar lixo, sucata, madeira, galões vazios ou qualquer outros resíduos que possam servir de abrigos a animais indesejados (roedores ou peçonhentos) ao redor do curral é importante.
Também é valido lembrar que o curral deve ser projetado pensando no número de animais da propriedade e na mão de obra disponível na fazenda.
Cocho
Os cochos são estruturas feitas para auxiliar na alimentação dos bovinos. Essa alimentação pode ser através do fornecimento de ração, proteicos energéticos, proteicos concentrados ou até mesmo sal mineral.
Recomenda-se construir o cocho sempre com uma cobertura, assim como mostra a imagem abaixo. A grande maioria dos alimentos fornecidos aos animais são produzidos com compostos, aditivos, nutrientes minerais e proteínas que não podem molhar, pois a água pode afetar a composição química dessas moléculas, fazendo com que o produto não tenha efeitos positivos no organismo do animal. Algumas moléculas quando estão úmidas podem até causar a morte dos animais se estes chegarem a consumi-la.
O cocho deve ser elaborado, em questão de tamanho, largura e altura, de acordo com o número de animais presentes no rebanho e também de acordo com o tipo de suplementação fornecida. Recomenda-se o seguinte espaçamento linear de cocho:
Proteico energético: 30 cm a 40 cm/animal;
Proteinado: 12cm a 15 cm/animal;
Mineral: 3cm a 5cm/animal;
Ração (Terminação intensiva a pasto): 40 cm a 50 cm/animal;
Ração (Confinamento): 35 cm/animal.
Os cochos podem ser construídos de diferentes materiais, de acordo com a condição econômica do produtor, mas sempre pensando também na qualidade e resistência da estrutura. Os mais comuns são de madeira cerrada, concreto pré-moldado e galões de plástico 200L cortados na vertical.
É importante que se não for um cocho móvel, que seja construído em uma área de fácil acesso aos animais e ao tratador. No caso de um cocho móvel, recomenda-se que ele seja leve para facilitar o transporte nas mudanças de local.
Corredores
Os corredores são estruturas elaboradas com as próprias cercas e como o nome já diz se assemelham a corredores de casas que fazem a ligação de um cômodo a outro, no entanto essa construção rural faz ligação de um pasto a outro, ou de um pasto para o curral. Serve para facilitar no manejo dos animais.
Reservatórios de água
Nas propriedades que utilizam água encanada para os animais há a necessidade de se ter um reservatório para atender a demanda dos bebedouros, pois dependendo do número de animais a serem atendidos, abastecer bebedouros com o trator pipa ou com uma motobomba leva tempo e mão de obra.
Recomenda-se que os reservatórios estejam localizados nos pontos mais altos da fazenda para a distribuição de água acontecer em gravidade, evitando assim o uso de uma bomba, o que já é uma economia de energia e mão de obra. No caso de áreas muito planas usa-se fazer um morro de terra, uma elevação, e instalar o reservatório de água em cima dele de maneira que dê declividade.
Essas estruturas podem ser feitas de alvenaria, chapa metálica ou até mesmo como uma represa, utilizando-se uma PC (maquinário). É importante elaborar o reservatório de acordo com o número de cochos e a quantidade de água que será distribuída no dia a dia, se possível ainda deixar uma margem de segurança nos casos de haver elevação do nível da água.
Deve-se também pensar em como esse reservatório será abastecido, pois se for de maneira mecânica, com a utilização de caminhões pipa ou tratores, a estrutura deve estar em um local de fácil acesso. É necessário sempre monitorar a qualidade da água dos reservatórios, além de realizar uma limpeza periódica no mesmo.
Bebedouros
Os bebedouros são cochos onde os animais vão consumir a água, eles são ligados ao reservatório através de um sistema de encanamento e geralmente, seu nível de água é controlado por um sistema de boia (o mesmo utilizado em caixas de água).
Os bebedouros devem ser projetados pensando-se no número de animais presentes no lote e também na era (idade) desses animais. Estudos indicam que em média o consumo de um animal adulto é de 50 a 60L de água/animal/dia.
A água dos bebedouros, assim como a do reservatório, deve ser monitorada periodicamente, para que não falte água aos animais. As limpezas também são necessárias para manter uma boa qualidade da água.
Armazém
Os armazéns, ou também conhecidos como galpões, são estruturas cobertas, de madeira, zinco ou alvenaria, com ou sem paredes, que possuem um grande número de funções, podendo ser utilizado para armazenamento de suplementos (sal mineral, proteico, ração), de insumos, de ferramentas de trabalho, de tratores e implementos, entre outras coisas que se possa guardar em um armazém.
Os galpões devem ser projetados pensando em uma finalidade específica, ou seja, com a intenção de armazenar determinado objeto. Por exemplo, um barracão projetado para armazenar ferramentas de trabalho não pode ser o mesmo para guardar o sal mineral, pois o sal pode corroer as ferramentas. Então recomenda-se que o armazém seja elaborado já com uma determinada finalidade.
Não é recomendado construí-lo próximo a residências e nem totalmente distante da sede da fazenda, para em primeiro caso evitar acidentes com a pessoas residentes no local e em segundo caso evitar furtos de ferramentas, implementos, maquinários ou produtos.
Essas são as estruturas mais comuns encontradas nas propriedades rurais que atuam na atividade pecuária de corte. Claro que cada propriedade tem sua realidade e deve ser tratada de modo individual, mas é muito comum você ver algumas dessas estruturas em uma fazenda. Se caso os amigos quiserem se aprofundar mais no conteúdo, temos abaixo algumas referências sobre o assunto.
Referências