O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia agrícola que visa controlar as pragas de forma eficaz e sustentável, utilizando uma variedade de técnicas, como a prevenção, monitoramento, controle biológico e químico, entre outras. A finalidade do MIP é reduzir os impactos negativos das pragas nas culturas agrícolas, minimizando o uso de pesticidas e protegendo o meio ambiente.
Conceito de Praga
Praga: na conceituação convencional, um organismos é classificado como praga ao ter sua presença detectada na lavoura. Já dentro do MIP, este mesmo organismo só é considerado praga quando causa danos econômicos na lavoura;
Sistemas de controles de pragas
Sistema convencional de controle: Neste sistema, as medidas de controle, geralmente o controle químico, são adotadas assim que o organismo-praga está presente na lavoura. Observações e considerações de outros fatores são desprezadas. Esta prática se deve à falta de informações técnicas relacionadas ao manejo de pragas na maioria das culturas praticadas, desinformação de técnicos e agricultores e interesses econômicos. O controle adequado não é alcançado neste sistema, promovendo a elevação do custo de produção, a poluição do meio ambiente e a contaminação de funcionários e agricultores, quando os defensivos químicos não são utilizados da maneira recomenda.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Neste sistema, os fatores causadores de morte natural das pragas são preservados e potencializados, fazendo-se o uso de métodos que são selecionados baseando-se em parâmetros técnicos, econômicos, ecológicos e sociológicos.
Componentes do MIP:
Monitoramento/Diagnose: É importante monitorar as plantas e os insetos para identificar quais pragas estão presentes na lavoura e em que níveis, para que se possa tomar as medidas de controle adequadas no momento certo. O monitoramento pode ser feito por meio de armadilhas, inspeção visual das plantas, amostragem de solo e outros métodos.
Tomada de decisão: Com base nas informações coletadas durante o monitoramento, é possível avaliar o risco da presença das pragas e decidir qual o melhor momento e método de controle para cada caso. Essa tomada de decisão leva em consideração diversos fatores, como a espécie de praga, seu ciclo de vida, o estágio da cultura e as condições climáticas.
Controle cultural: O controle cultural envolve a adoção de práticas que favoreçam o equilíbrio ecológico da lavoura e reduzam a incidência de pragas. Isso pode incluir o uso de rotação de culturas, plantio de variedades resistentes a pragas, manejo adequado do solo e adubação equilibrada.
Controle biológico: O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais das pragas para controlar sua população, como predadores, parasitóides e patógenos. Essa técnica é considerada mais segura e sustentável que o controle químico, pois não prejudica a saúde humana e não causa danos ao meio ambiente.
Controle químico: O controle químico consiste no uso de pesticidas para controlar as pragas. Essa técnica é vista como um último recurso, pois pode ter efeitos negativos na saúde humana e no meio ambiente. Quando utilizado, é importante seguir as recomendações de dosagem e aplicação, evitando a contaminação de outras plantas, animais e pessoas.
Tipos de pragas
Existem dois tipos principais de pragas: as pragas diretas e as pragas indiretas.
Pragas diretas: As pragas diretas são aquelas que atacam diretamente as plantas e causam danos visíveis em folhas, raízes, caules, flores e frutos. Alguns exemplos de pragas diretas são pulgões, lagartas, percevejos, ácaros e nematoides. Essas pragas se alimentam das plantas, causando danos físicos e reduzindo a capacidade de crescimento e desenvolvimento das culturas.
Pragas indiretas: Já as pragas indiretas não atacam diretamente as plantas, mas prejudicam sua saúde de outras formas, como transmitindo doenças, enfraquecendo-as e facilitando o ataque de outras pragas. Por exemplo, os percevejos são pragas indiretas que podem transmitir doenças às plantas, enquanto as formigas cortadeiras enfraquecem as plantas ao cortar suas folhas e utilizá-las para cultivar fungos que as atacam.
Além disso, esses organismos são classificados de acordo com sua importância: Organismos não-praga; Pragas ocasionais ou secundárias; Pragas chaves; Pragas frequentes; Pragas severas.
Organismos não-pragas: Os organismos não-praga são aqueles que, em geral, não causam danos significativos às plantas cultivadas, e sua densidade populacional nunca atinge um nível que justifique medidas de controle (Figura 1). Eles correspondem à maioria das espécies fitófagas encontradas nos agroecossistemas.
Figura 1. Densidade populacional média do organismos não-pragas ao logo do tempo.
Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.
Pragas ocasionais ou secundárias: As pragas ocasionais ou secundárias são aquelas que raramente atingem o nível de controle (Figura 2). Isso significa que sua população não é significativa o suficiente para causar danos econômicos às culturas. Essas pragas geralmente apresentam baixa densidade populacional e mantêm-se em equilíbrio com o ecossistema, ou são controladas naturalmente por outros organismos presentes no ambiente.
Figura 2. Densidade populacional média de organismo ocasionais/secundárias ao logo do tempo.
Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.
Um exemplo de praga ocasional é o ácaro na cultura do café (Figura 3). Embora os ácaros possam estar presentes na lavoura, eles raramente causam danos significativos à produção de café. Isso ocorre porque os ácaros são controlados naturalmente por outros predadores, como a aranha-vermelha predadora.
Figura 3. Ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni).
Fonte: Syngenta.
Pragas chaves: As pragas chaves são as principais pragas que afetam a produtividade e a qualidade das culturas agrícolas em todo o mundo. Essas pragas são aquelas que têm um alto potencial de dano econômico, pois possuem uma grande capacidade reprodutiva e se proliferam rapidamente, podendo destruir a cultura por completo se não forem controladas.
Para citar alguns exemplos de pragas chaves nas principais culturas do Brasil, na região Sul, que é uma grande produtora de soja, as principais pragas chaves são a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a Helicoverpa armigera, a mosca-branca (Bemisia tabaci) e o percevejo-marrom (Euschistus heros).
Na região Centro-Oeste do Brasil, as culturas da soja, milho e algodão são muito importantes para a economia local e, portanto, a identificação das principais pragas chaves em cada uma dessas culturas é fundamental para estabelecer um sistema de manejo eficiente.
Para a cultura da soja, algumas das principais pragas chaves na região Centro-Oeste incluem a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a falsa-medideira (Chrysodeixis includens), o bicudo-da-soja (Rhyssomatus subtilis), o percevejo-marrom (Euschistus heros) e a mosca-branca (Bemisia tabaci).
Já na cultura do algodão, as principais pragas chaves são o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e o pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii).
Por fim, para a cultura do milho, destacam-se as pragas chaves como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e o percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus).
Já na região Sudeste, onde se destaca a produção de café, as principais pragas chaves são os ácaros (Brevipalpus phoenicis), a broca-do-café (Hypothenemus hampei) e a ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix).
Pragas frequentes: As pragas frequentes são aquelas que frequentemente atingem o nível de controle nas culturas agrícolas (Figura 4), podendo causar danos significativos à produção. Um exemplo desse tipo de praga é a cigarrinha verde (Empoasca kraemeri), que frequentemente ataca plantações de feijão. Essa praga se alimenta da seiva das plantas, o que resulta em danos como o amarelecimento das folhas e a queda prematura das vagens. Além disso, a cigarrinha verde é uma vetor de transmissão de doenças para as plantas, o que pode agravar ainda mais os prejuízos causados.
Figura 4. Densidade populacional média de organismo frequentes ao logo do tempo.
Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.
Pragas severas: São organismos cujo seu ponto de equilíbrio é maior que o nível de controle (Figura 5). Um exemplo de praga severa é a formiga saúva (Atta spp.) em pastagens, que podem causar danos significativos à produção de carne e leite, além de interferir na estrutura do solo. O controle eficiente dessas pragas requer o uso de diversas estratégias de manejo, como a utilização de iscas tóxicas e barreiras físicas. É importante ressaltar que a escolha das estratégias deve ser adequada à espécie da praga e ao ambiente em que está inserida.
Figura 5. Densidade populacional média do organismo pressão severa ao logo do tempo.
Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem se mostrado uma estratégia eficiente e sustentável para controle de pragas em diferentes culturas agrícolas. A adoção desse sistema permite a redução do uso de agrotóxicos e, consequentemente, a diminuição dos impactos ambientais e riscos à saúde humana. Além disso, o MIP permite uma maior integração entre os diversos fatores que influenciam o desenvolvimento das pragas, incluindo a ação de inimigos naturais e o impacto das condições climáticas, proporcionando um controle mais efetivo e duradouro. Dessa forma, a implementação do MIP pode trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais para as regiões produtoras, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e saudável.
Referencias:
COUTINHO PICANÇO, M.; DE ENTOMOLOGIA, A. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL 36570-000 -VIÇOSA -MG -BRASIL MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.ica.ufmg.br/wp-content/uploads/2017/06/apostila_entomologia_2010.pdf>.