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Foto do escritorRafael Barreiro

Entenda como funciona o Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Atualizado: 27 de out. de 2023

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia agrícola que visa controlar as pragas de forma eficaz e sustentável, utilizando uma variedade de técnicas, como a prevenção, monitoramento, controle biológico e químico, entre outras. A finalidade do MIP é reduzir os impactos negativos das pragas nas culturas agrícolas, minimizando o uso de pesticidas e protegendo o meio ambiente.

Conceito de Praga

Praga: na conceituação convencional, um organismos é classificado como praga ao ter sua presença detectada na lavoura. Já dentro do MIP, este mesmo organismo só é considerado praga quando causa danos econômicos na lavoura;


Sistemas de controles de pragas


  1. Sistema convencional de controle: Neste sistema, as medidas de controle, geralmente o controle químico, são adotadas assim que o organismo-praga está presente na lavoura. Observações e considerações de outros fatores são desprezadas. Esta prática se deve à falta de informações técnicas relacionadas ao manejo de pragas na maioria das culturas praticadas, desinformação de técnicos e agricultores e interesses econômicos. O controle adequado não é alcançado neste sistema, promovendo a elevação do custo de produção, a poluição do meio ambiente e a contaminação de funcionários e agricultores, quando os defensivos químicos não são utilizados da maneira recomenda.

  2. Manejo Integrado de Pragas (MIP): Neste sistema, os fatores causadores de morte natural das pragas são preservados e potencializados, fazendo-se o uso de métodos que são selecionados baseando-se em parâmetros técnicos, econômicos, ecológicos e sociológicos.


Componentes do MIP:


Manejo Integrado de Pragas

  1. Monitoramento/Diagnose: É importante monitorar as plantas e os insetos para identificar quais pragas estão presentes na lavoura e em que níveis, para que se possa tomar as medidas de controle adequadas no momento certo. O monitoramento pode ser feito por meio de armadilhas, inspeção visual das plantas, amostragem de solo e outros métodos.

  2. Tomada de decisão: Com base nas informações coletadas durante o monitoramento, é possível avaliar o risco da presença das pragas e decidir qual o melhor momento e método de controle para cada caso. Essa tomada de decisão leva em consideração diversos fatores, como a espécie de praga, seu ciclo de vida, o estágio da cultura e as condições climáticas.

  3. Controle cultural: O controle cultural envolve a adoção de práticas que favoreçam o equilíbrio ecológico da lavoura e reduzam a incidência de pragas. Isso pode incluir o uso de rotação de culturas, plantio de variedades resistentes a pragas, manejo adequado do solo e adubação equilibrada.

  4. Controle biológico: O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais das pragas para controlar sua população, como predadores, parasitóides e patógenos. Essa técnica é considerada mais segura e sustentável que o controle químico, pois não prejudica a saúde humana e não causa danos ao meio ambiente.

  5. Controle químico: O controle químico consiste no uso de pesticidas para controlar as pragas. Essa técnica é vista como um último recurso, pois pode ter efeitos negativos na saúde humana e no meio ambiente. Quando utilizado, é importante seguir as recomendações de dosagem e aplicação, evitando a contaminação de outras plantas, animais e pessoas.


Tipos de pragas

Existem dois tipos principais de pragas: as pragas diretas e as pragas indiretas.


  • Pragas diretas: As pragas diretas são aquelas que atacam diretamente as plantas e causam danos visíveis em folhas, raízes, caules, flores e frutos. Alguns exemplos de pragas diretas são pulgões, lagartas, percevejos, ácaros e nematoides. Essas pragas se alimentam das plantas, causando danos físicos e reduzindo a capacidade de crescimento e desenvolvimento das culturas.

  • Pragas indiretas: Já as pragas indiretas não atacam diretamente as plantas, mas prejudicam sua saúde de outras formas, como transmitindo doenças, enfraquecendo-as e facilitando o ataque de outras pragas. Por exemplo, os percevejos são pragas indiretas que podem transmitir doenças às plantas, enquanto as formigas cortadeiras enfraquecem as plantas ao cortar suas folhas e utilizá-las para cultivar fungos que as atacam.


Além disso, esses organismos são classificados de acordo com sua importância: Organismos não-praga; Pragas ocasionais ou secundárias; Pragas chaves; Pragas frequentes; Pragas severas.


Organismos não-pragas: Os organismos não-praga são aqueles que, em geral, não causam danos significativos às plantas cultivadas, e sua densidade populacional nunca atinge um nível que justifique medidas de controle (Figura 1). Eles correspondem à maioria das espécies fitófagas encontradas nos agroecossistemas.


Figura 1. Densidade populacional média do organismos não-pragas ao logo do tempo.

Densidade da praga em função do tempo. Ponto de Equilíbrio.
PICANÇO, 2010. Elaboração: M.R.S Agronomia

Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.


Pragas ocasionais ou secundárias: As pragas ocasionais ou secundárias são aquelas que raramente atingem o nível de controle (Figura 2). Isso significa que sua população não é significativa o suficiente para causar danos econômicos às culturas. Essas pragas geralmente apresentam baixa densidade populacional e mantêm-se em equilíbrio com o ecossistema, ou são controladas naturalmente por outros organismos presentes no ambiente.


Figura 2. Densidade populacional média de organismo ocasionais/secundárias ao logo do tempo.

Densidade populacional média de organismo ocasionais/secundárias ao logo do tempo.
PICANÇO, 2010. Elaboração: M.R.S Agronomia

Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.


Um exemplo de praga ocasional é o ácaro na cultura do café (Figura 3). Embora os ácaros possam estar presentes na lavoura, eles raramente causam danos significativos à produção de café. Isso ocorre porque os ácaros são controlados naturalmente por outros predadores, como a aranha-vermelha predadora.


Figura 3. Ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni).

Ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni)

Fonte: Syngenta.


Pragas chaves: As pragas chaves são as principais pragas que afetam a produtividade e a qualidade das culturas agrícolas em todo o mundo. Essas pragas são aquelas que têm um alto potencial de dano econômico, pois possuem uma grande capacidade reprodutiva e se proliferam rapidamente, podendo destruir a cultura por completo se não forem controladas.


Para citar alguns exemplos de pragas chaves nas principais culturas do Brasil, na região Sul, que é uma grande produtora de soja, as principais pragas chaves são a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a Helicoverpa armigera, a mosca-branca (Bemisia tabaci) e o percevejo-marrom (Euschistus heros).


Na região Centro-Oeste do Brasil, as culturas da soja, milho e algodão são muito importantes para a economia local e, portanto, a identificação das principais pragas chaves em cada uma dessas culturas é fundamental para estabelecer um sistema de manejo eficiente.


Para a cultura da soja, algumas das principais pragas chaves na região Centro-Oeste incluem a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a falsa-medideira (Chrysodeixis includens), o bicudo-da-soja (Rhyssomatus subtilis), o percevejo-marrom (Euschistus heros) e a mosca-branca (Bemisia tabaci).


Já na cultura do algodão, as principais pragas chaves são o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e o pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii).


Por fim, para a cultura do milho, destacam-se as pragas chaves como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e o percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus).


Já na região Sudeste, onde se destaca a produção de café, as principais pragas chaves são os ácaros (Brevipalpus phoenicis), a broca-do-café (Hypothenemus hampei) e a ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix).


Pragas frequentes: As pragas frequentes são aquelas que frequentemente atingem o nível de controle nas culturas agrícolas (Figura 4), podendo causar danos significativos à produção. Um exemplo desse tipo de praga é a cigarrinha verde (Empoasca kraemeri), que frequentemente ataca plantações de feijão. Essa praga se alimenta da seiva das plantas, o que resulta em danos como o amarelecimento das folhas e a queda prematura das vagens. Além disso, a cigarrinha verde é uma vetor de transmissão de doenças para as plantas, o que pode agravar ainda mais os prejuízos causados.


Figura 4. Densidade populacional média de organismo frequentes ao logo do tempo.

Densidade populacional média de organismo Pragas frequentes ao logo do tempo. Toda vez que a população dessa praga atinge o nível de dano, é realizado o controle.
PICANÇO, 2010. Elaboração: M.R.S Agronomia.

Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.


Pragas severas: São organismos cujo seu ponto de equilíbrio é maior que o nível de controle (Figura 5). Um exemplo de praga severa é a formiga saúva (Atta spp.) em pastagens, que podem causar danos significativos à produção de carne e leite, além de interferir na estrutura do solo. O controle eficiente dessas pragas requer o uso de diversas estratégias de manejo, como a utilização de iscas tóxicas e barreiras físicas. É importante ressaltar que a escolha das estratégias deve ser adequada à espécie da praga e ao ambiente em que está inserida.


Figura 5. Densidade populacional média do organismo pressão severa ao logo do tempo.

Densidade populacional média do organismo pressão severa ao logo do tempo.
PICANÇO, 2010. Elaboração: M.R.S Agronomia.

Legenda: PE: Ponto de Equilíbrio; ND: Nível de Dano.


O Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem se mostrado uma estratégia eficiente e sustentável para controle de pragas em diferentes culturas agrícolas. A adoção desse sistema permite a redução do uso de agrotóxicos e, consequentemente, a diminuição dos impactos ambientais e riscos à saúde humana. Além disso, o MIP permite uma maior integração entre os diversos fatores que influenciam o desenvolvimento das pragas, incluindo a ação de inimigos naturais e o impacto das condições climáticas, proporcionando um controle mais efetivo e duradouro. Dessa forma, a implementação do MIP pode trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais para as regiões produtoras, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e saudável.


Referencias:

COUTINHO PICANÇO, M.; DE ENTOMOLOGIA, A. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL 36570-000 -VIÇOSA -MG -BRASIL MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.ica.ufmg.br/wp-content/uploads/2017/06/apostila_entomologia_2010.pdf>.

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